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Veia bailarina

 

VEIA BAILARINA
IGNÁCIO de Loyola BRANDÃO
3ª ed. São Paulo: Global. 1997.

 

“Imagine o que seria acordar de manhã informado de que uma artéria vai explodir no seu cérebro. A qualquer momento. Loyola acordou um dia com essa informação: era portador de um aneurisma cerebral.

 

Embora não seja possível sequer imaginar o que vai virar a sua vida a partir desse fato, dá para suspeitar que ela vai virar do avesso. Conviver com a possibilidade da morte a cada minuto, e ao mesmo tempo com pavor de tentar evitá-la através de uma cirurgia delicadíssima, é a experiência que Loyola nos conta com poesia, esperança e ao mesmo tempo fascínio. Sim, porque estar diante do mistério da morte 24 horas por dia não deixa de ser fascinante – e, claro, desesperador.

 

Sorte do leitor que o sobrevivente dessa experiência seja um escritor que acabou por transformá-la num quase-romance. De suspense, medo, angústia e muita, muita luz no fim daquele túnel pelo qual ninguém de nós quer passar.” (Zezé Brandão)

 

“Todos os grandes problemas talvez comecem com um pequeno incidente. O escritor que passou por tudo o que aqui narra neste Veia Bailarina, um dia sentiu uma leve tontura. Tendo o costume de acordar sempre muito cedo, estava a caminho da cozinha para fazer o café, por ‘adorar o cheiro espesso que se ergue do coador’, quando o ‘corredor balançou como um navio’. Bom, mas não era o corredor que balançava como um navio. Era o nosso amigo Ignácio. Ou suas outras identidades, como o pai do André, do Daniel e da Rita, o marido da Márcia, o diretor de redação da revista Vogue e, principalmente, o autor de romances como Zero e Não Verás País Nenhum e aquele que ele pensou ser o último, O Anjo do Adeus. A corporação Ignácio de Loyola Brandão começava aquele dia balançando, dançando sem querer. E, pior, sozinho. Meses depois, ele estava num hospital, pronto para que os médicos abrissem sua cabeça, na cirurgia considerada master, em medicina. Loyola era portador de um aneurisma cerebral. Fato raro na história: tinha descoberto, antes que o aneurisma sangrasse e o matasse, o deixasse inválido, o transformasse num vegetal.

 

Veia Bailarina é um livro sobre a dor, o medo, as nossas perdas de cada dia, as do varejo, e aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado. Mas não pense que é um livro triste, um rosário de queixas, capaz de fazer uma estátua soluçar, espantando os passantes. Apesar de dramático, seu tom é delicado, suave, bem-humorado, sarcástico, às vezes. É um livro sobre a redescoberta do viver.

 

Seus momentos decisivos têm lugar num hospital. Os hospitais começaram a existir recebendo hóspedes, em geral pobres viajantes que estavam a caminho de pagar uma promessa. Às vezes não chegavam ao fim da viagem e ali eram tratados. Num tempo de tantas denúncias, de rebaixamento de padrões de convivência em nosso país, é reconfortante ler este relato. Milhões de pessoas, todos os dias, praticam pequenos atos indispensáveis à sobrevivência e à felicidade. E milhares delas fazem isso em hospitais.

 

Aqui estão as dores, os corredores cheirando medicamentos, o olhar sobre os outros doentes, as visitas, curativos, sustos noturnos, a comida, os exercícios físicos e a obsessão pela recuperação.

 

Ah, sim! E Ignácio de Loyola Brandão deixou o hospital e prossegue fazendo o que mais gosta, escrever.” (Dionísio da Silva)


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