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Como falam os afásicos?

Parafasia Lexical

A história de Farid

O senhor Farid tinha 72 anos de idade quando se tornou afásico após um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Solteiro, aposentado, morava com o irmão e a cunhada. Sempre bem informado sobre política, economia e esportes, fazia leitura diária de jornais e acompanhava o noticiário na TV. Era independente para todas as atividades de vida diária, fazia caminhadas e ginástica frequentes, pois não sofrera qualquer sequela motora.

A afasia do senhor Farid se caracterizava pela dificuldade em evocar ou encontrar as palavras que pudessem expressar aquilo que ele gostaria de dizer, o que é conhecido como ANOMIA. Às vezes usava gestos acompanhados de vocalizações ou de uma prosódia rica para se comunicar. Às vezes podia substituir ou trocar a palavra que gostaria de dizer por uma palavra diferente, parecida ou não com a palavra pretendida, o que é conhecido como PARAFASIA.

O almoço de Farid

Parafasia: possibilidades de construção do sentido na interação

Você já deve ter vivido uma situação em que uma pessoa quer falar determinada palavra e, por alguma razão inconsciente, produz outra, parecida ou não com a palavra que gostaria de enunciar. Esses seriam atos-falhos ou lapsos linguísticos que Freud chamou de “parafasias”. Mas nas afasias, a parafasia tem sido definida como substituição de uma palavra (denominada palavra-alvo) por outra palavra semântica ou fonologicamente relacionada e é sempre considerada como erro que pode ocorrer tanto na fala – parafasia lexical ou fonêmica – como também na leitura – paralexia lexical ou fonêmica – e na escrita – paragrafia lexical ou fonêmica.

Na perspectiva aqui adotada, a parafasia não será tomada como desvio ou erro semântico, mas sim como possibilidades de construção do sentido durante a interação: o senhor Farid quer contar à fonoaudióloga AT o que comeu no almoço além de macarrão e de alcachofra.

Ele diz dassaía que AT compreende como sendo lasanha. Faz gestos circulares com seu dedo indicador, que AT entende como rocambole. O senhor Farid também escreve SE no papel na tentativa de fazer AT entender o que comera. E produz sa-di-a que AT entende como sendo sardinha. Mas também não foi sardinha que o senhor Farid comeu.

Assista ao vídeo “O almoço de Farid” e procure descobrir como uma parafasia – sadia – quando não é tomada como erro, pode apontar caminhos na construção da significação. O senhor Farid comeu linguiça, mas o sentido de linguiça é construído a partir de uma marca de linguiça – SADIA – cuja propaganda mostrava a linguiça tomando a forma de S de Sadia na frigideira.

Parafasia - o quiproquó das palavras

A transcrição do episódio acima e uma discussão aprofundada sobre PARAFASIA se encontra no capítulo PARAFASIA: O QUIPROQUÓ DAS PALAVRAS de autoria de Ana Lucia Tubero disponível na íntegra no link abaixo. Do latim – Quid pro quo – “uma coisa pela outra”.
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