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Avaliação e Reablitação

Afásicos: Avaliação e Reabilitação

O cérebro só se reconstrói com o uso da linguagem e da cognição.
E para isso, é preciso interação.

A reabilitação da afasia não é fácil. Descobrir as dificuldades, encarar as limitações, reinventar um jeito próprio de dizer as coisas e de estar no mundo. Continuar tocando a vida apesar da afasia. Mas ninguém faz isso também sozinho. É preciso usar a linguagem e a cognição na interação com as pessoas, os amigos, os conhecidos, os familiares, os colegas de estudo, de trabalho e de profissão.

E, sobretudo, poder ter junto pessoas com quem contar, disponíveis, generosas, empáticas, incondicionais que, mesmo diante da afasia, consigam construir com o afásico uma nova relação capaz de manter os vínculos existentes e mesmo tecer novos.

A reabilitação fonoaudiológica visa a reconstrução da linguagem, a utilização de estratégias multimodais, a reorganização das habilidades de comunicação e dos aspectos que são relevantes nas atividades de vida de qualquer indivíduo – afásico ou não – para uma melhor interação, sociabilização e comunicação.

A interface entre avaliação e reabilitação

Conhecer como o afásico mobiliza a linguagem para produzir sentidos.

O objetivo da avaliação de linguagem é conhecer e compreender os mecanismos e as estratégias dos quais o afásico lança mão para se fazer entender, ou seja, como usa a linguagem oral e escrita, a gestualidade, a expressão facial, a entonação da voz, o direcionamento do olhar etc. para dar conta da comunicação nas diversas atividades interativas de sua vida cotidiana.

É claro que a pessoa que não é afásica pode usar a linguagem oral de forma predominante nas situações de comunicação, mas também gesticula, modifica a entonação da voz, aponta lugares e objetos, movimenta o corpo, faz expressões faciais etc. concomitantemente ou não com a linguagem oral, para dar conta da significação. O afásico, diante da dificuldade de linguagem que a afasia impõe, precisa necessariamente mobilizar outros recursos além da fala para se comunicar.

Conhecer os movimentos linguístico-cognitivos que o afásico faz durante a interação e reconhecer esses movimentos como linguagem que permite construir sentidos é o objetivo da avaliação e também da reabilitação. Sim, porque, de nosso ponto de vista, avaliação e reabilitação formam um continuum composto por idas e vindas, por ajustes e negociações de sentido, por trocas e compartilhamento do que se quer dizer e do que é dito e compreendido pelo afásico e seus interlocutores.

Linguagem, Cognição e Interação

Não há o “faça isso” nem o “não faça aquilo”

A perspectiva sociocognitiva e interacionista aqui adotada propõe que os aspectos sociais, interacionais, cognitivos, culturais e multimodais relacionados à linguagem e demais processos cognitivos são essenciais, relevantes e determinantes na avaliação para conhecer como o afásico mobiliza a linguagem para produzir sentidos, para se comunicar e interagir em seu grupo social, apesar da afasia.

Para se comunicar, o afásico – como também quem não é afásico – pode fazer uso da linguagem oral e escrita; de gestos indicativos (apontamentos com o dedo indicador) ou de gestos que representam um sentido fixo por convenção social (como, por exemplo, o gesto de “positivo” com o dedo polegar erguido ou o gesto de “dinheiro” com o movimento repetido dos dedos indicador e polegar); de movimentos do corpo, dos braços, das mãos, da cabeça; de expressões faciais; da prosódia (entonação da voz). Não há padrões, não há receitas, não há o “faça isso” nem o “não faça aquilo”.

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