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Como falam os afásicos?

Automatismo e Estereotipias

Não me dói Não me dói

Dona Diva, após um AVC, viveu vários anos em uma instituição geriátrica. Foi lá que eu a conheci. Era uma senhora elegante que gostava muito da companhia das pessoas. Além da afasia, o AVC trouxe também a hemiplegia de membros superior e inferior direitos. Algumas atendentes da instituição se referiam a ela como poliqueixosa, ou seja, aquele doente que tem sempre alguma queixa, geralmente de dor, em várias partes do corpo.

Mas como a vida tem sempre seus paradoxos, dona Diva, que tinha muita dificuldade para falar, conseguia produzir de forma bastante clara e bem articulada a seguinte expressão: Não me dói. A riqueza da entonação de sua fala (prosódia) – associada com gestos e com a escrita no ar – fazia com que a estereotipia Não me dói ganhasse outros sentidos e significações nas diversas situações de interação.

Os automatismos são geralmente considerados como elementos linguísticos constituídos de apenas alguns fonemas, de palavras ou de expressões que o afásico consegue produzir repetidas vezes de forma aparentemente automática. Os automatismos podem ter um sentido, ou seja, ser uma palavra ou léxico da língua, ou podem não fazer sentido algum, constituindo-se, por exemplo, pela repetição de fonemas ou de grupos de fonemas. Assim, expressões como Minha Nossa Senhora, Meu Deus do Céu, O senhor faça o favor, Puta merda, Esse esse, Essái essái, Dé dé dé são ESTEREOTIPIAS que o afásico usa revestindo-as de sentido pela prosódia – caracterizando o AUTOMATISMO.

Não me dói: o bisneto da dona Diva

Dona Diva recebia visitas frequentes de sua família. Do filho Carlos vieram os netos e depois um bisneto. Usando Não me dói e vários recursos, é ela quem nos conta como sua família foi crescendo ao longo dos anos.

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