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O homem que confundiu sua mulher com um chapéu

 

OLIVER SACKS
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

 

O livro narra histórias que envolvem pacientes com distúrbios neurológicos, mas que preservam sua imaginação e constroem uma identidade própria. Sacks privilegia novas realidades para a investigação científica e problematiza a relação entre o físico e o psíquico.

 

“Oliver Sacks é um neurologista que reivindica para o saber médico uma nova abordagem descritiva, que aproxima os “relatos de casos” a técnicas romanescas, transformando estudos científicos em peças literárias com personagens e enredos tão imponderáveis quanto universais. É impossível ler seus ensaios sem pensar em Freud, o neurologista austríaco que, a partir de relatos clínicos com intensa lapidação estilística, acabou por ampliar os horizontes de representação da vida anímica e fez da psicanálise a matriz do imaginário e do pensamento modernos. Algo semelhante ocorre com Sacks. Em O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, estamos na presença de um médico que acolhe a todo momento o novo, o inesperado que irrompe em cada testemunho do drama particular de seus pacientes. Um músico que percebe apenas formas abstratas, que detecta as propriedades geométricas de uma flor, mas é incapaz de identificar nela uma rosa; pessoas que sentem dores em membros amputados; uma vítima da amnésia que desesperadamente inventa identidades para as pessoas; o assassino que não recorda seu crime e que, após um acidente, tem pesadelos que reconstituem cada detalhe do assassinato – são estas algumas das personagens de Sacks, almas perdidas na privação neurológica, na superexcitação dos sentidos, nos excessos da imaginação, na clausura interior. O homem que confundiu sua mulher com um chapéu (adaptado para o teatro pelo diretor inglês Peter Brook) traz relatos envolventes, em que o observador tenta pacificar seu espanto com referências ao universo estável da literatura e da filosofia. Mais do que talento retórico, porém, os relatos de Sacks descobrem na arte da narrativa uma possibilidade de ir além do mero registro classificatório dos distúrbios cerebrais, criando uma neurologia da identidade, uma dramaturgia da mente que dá voz a “viajantes em terras inimagináveis” – alargando, pela sensibilidade poética, o campo de investigação da ciência.”


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