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De Profundis, Valsa Lenta

 

JOÃO CARDOSO PIRES
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 1998.

 

No livro o autor relata sua história após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 1995 que afetou sua fala, leitura e escrita. Os objetos comuns tornaram-se objetos desconhecidos, as pessoas já não eram associadas ao nome e a memória estava perdida.

 

“José Cardoso Pires não é autista. É um artista, um escritor português, e dos bons. Viveu uma experiência que outros também viveram, mas que só ele conseguiu, com severo estilo formal, talento e, principalmente, extrema sinceridade, transformar numa peça literária – De Profundis, Valsa Lenta – que vem precedida de outra peça literária, o prefácio do médico João Lobo Antunes, em forma de epístola.

 

Um grupo de neurônios de JCP ficou subitamente privado, em parte, do oxigênio para respirar e do açúcar para se alimentar porque um minúsculo coágulo de sangue se desprendera e entupira a artéria que conduz o sangue ao cérebro. Isso obrigou uma parte do organismo – no caso, uma célula nervosa – a criar uma membrana que entrou em estado de hibernação protetora. Essa cápsula de proteção poderia durar até a recuperação do paciente ou até a sua morte.

 

José Cardoso Pires perdeu a quase totalidade da memória e se viu vivendo como se fosse uma terceira pessoa observando a si mesmo. Tudo como um sonho fascinante e terrível no qual os objetos mais elementares deixam de ser o que são e ganham novos nomes e serventias. Como deixou de ser eu e passou a ser ele (o que aconteceu com todos os autistas e esquizofrênicos), o escritor teve de aprender sobre o eu. Posteriormente, já recuperado, olhou para alguns testes que fez, quando desmemoriado, e disse: ‘Demoro-me um pouco sobre as fotocopias da caligrafia desse homem’.

 

Foi à memória (existente, com sua própria língua e seus próprios símbolos) dentro da falta de memória que o artista português recorreu para nos narrar sua aventura. Fora ele um artista menor, poderia ter feito um caudaloso melodrama. Como é um escritor sério que conhece o peso de cada palavra, nos contou o que lhe aconteceu quando o peso das palavras começou a mudar. Um Robinson Crusoé de si mesmo.” (Fausto Wolff)


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