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O erro de Descartes

 

O erro de Descartes
DAMÁSIO, ANTONIO R.
São Paulo: Companhia das Letras. 1996.

 

Descartes’s error.
DAMÁSIO, ANTONIO R.
New York: Avon Books. 1994.

 

“O livro discute como a ausência de emoção e sentimento pode destruir a racionalidade e oferece uma visão científica e integrada do ser humano, entre mente e corpo, razão e sentimento, entre o biológico e o cultural, sugerindo hipóteses sobre o funcionamento do cérebro humano a partir das descobertas da neurobiologia.”

 

“Penso, logo existo. Esta afirmação, talvez a mais famosa da história da filosofia, ilustra exatamente o oposto do que o autor deste livro propõe e desenvolve em suas páginas. A frase de Descartes sugere que pensar e ter consciência de pensar definem o ser humano. E como sabemos que o filósofo francês concebia o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, sua definição estabelece um abismo entre mente e corpo. Para contestar Descartes – e todas as consequências dualistas de sua afirmação – António Damásio não recorre a filigranas escolásticas ou sutilezas metafísicas, mas ao seu conhecimento de pacientes neurológicos afetados por danos cerebrais.

 

Escrito com clareza e graça, O erro de Descartes é uma viagem fascinante ao interior de nosso cérebro que começa na metade do século XIX com a história de Phineas Gage, o capataz da construção civil que sofreu, segundo um jornal da época, um “acidente maravilhoso”: seu cérebro foi trespassado por uma barra de ferro de um metro de comprimento e três centímetros de diâmetro e ele não morreu. Mas as posteriores mudanças de comportamento e duas consequências desastrosas para a vida de Gage e de outros pacientes que sofreram danos semelhantes abrem as portas para a investigação de um campo quase inexplorado pela ciência: as relações entre razão e sentimento, emoções e comportamento social. Na visão inovadora de Damásio, sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência. Em suma, uma pessoa incapaz de sentir pode até ter o conhecimento racional de alguma coisa, mas será incapaz de tomar decisões com base nessa racionalidade.

 

Ao tirar o espírito de seu pedestal e colocá-lo dentro de um organismo que possui cérebro e corpo totalmente integrados, o autor sublinha a complexidade, a finitude e a singularidade que caracterizam o ser humano. Reconhecer a origem humilde e a vulnerabilidade do espírito e, ao mesmo tempo, continuar a recorrer à sua orientação, é tarefa difícil, mas indispensável. O ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anticartesiano: existo (e sinto), logo penso.”

 

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