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Seja bem-vindo(a) à 17ª edição da Newsletter Descomplicando a Afasia.
Veja os temas abordados nesta edição:
🃏 Automatismo: as “palavras-coringa”
🧠 Dinamismo nas interações
⚖️ Quais são as barreiras e os facilitadores na afasia
🎧 Descomplicando a Afasia para mais gente!
Entenda o significado do “automatismo”, as chamadas “palavras-coringa”, descubra como funciona a dinâmica das interações e compreenda melhor as barreiras e facilitadores para uma convivência mais harmônica e respeitosa com pessoas com afasia.
Junte-se a nós nesta missão de desmistificar a afasia e promover uma comunicação mais inclusiva e empática!

O que é?
Em 1891, Paul Broca, um neurologista francês, descreveu uma pessoa com afasia que só conseguia produzir uma única expressão oral – “Tan Tan” – apesar de compreender tudo aquilo que lhe era dito. Ele se chamava Leborgne e, quando não era compreendido por seus interlocutores, ficava bravo e também usava palavrões. Leborgne produzia o automatismo “tan tan” para se comunicar.
O automatismo é definido como uma produção contínua, repetitiva e involuntária de uma sílaba, palavra, expressão ou enunciado. Mas apesar da grande dificuldade na produção espontânea e, portanto, voluntária das palavras, a pessoa com afasia pode usar o automatismo juntamente com gestos, com prosódia, com a escrita, e assim construir um sentido daquilo que quer dizer.
Camila Fabro ou @camiladesmiolada usa o termo palavra-coringa para se referir ao automatismo. É a mesma palavra ou expressão, mas que ganha novos sentidos e contornos a partir do contexto, da situação e do interlocutor.
Assim, a cada enunciação, o automatismo ganha um novo significado. O automatismo é o “querer-dizer” (termo utilizado pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin) da pessoa com afasia.
Exemplos de automatismo
Dona Diva produzia o automatismo “não me dói” que, com recursos prosódicos como mudança de ritmo, duração, intensidade e qualidade vocálica, com gestos e com a escrita no ar, tomava sentidos diferentes à cada enunciação.
Orlando Russo produzia como automatismo um palavrão, “p*ta m*rda”, que usava com rica entonação prosódica. Por ser um palavrão, o automatismo usado por Orlando limitava suas interações principalmente em lugares públicos e com pessoas desconhecidas.
Falante de seis línguas, Orlando se calava para não constranger as pessoas falando um palavrão. Entre nós, o p*ta m*rda sempre ganhava sentidos diferentes, à cada enunciação.
Tião usa a palavra “pessoa” que, quando acompanhada de gestos e apontamentos, pode significar seu braço, sua perna, sua empresa, seu cachorro. Mas, quando ele quer se referir à cidade de João Pessoa, por exemplo, o automatismo “pessoa” não funciona de forma automática, e a cidade vira só João.
Portanto, tente entender no automatismo o que existe além do automático e do involuntário. Tente construir, junto com a pessoa com afasia, o sentido que está presente nos gestos, nos apontamentos e na prosódia de quem usa “palavras-coringa”.
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As interações com pessoas que têm afasia podem ser dinâmicas e motivadoras. É importante lembrar que cada pessoa é única e pode ter habilidades e possibilidades de comunicação diferentes.
Entender como se adaptar às necessidades individuais de cada pessoa é essencial para promover uma interação significativa. Isso pode envolver falar mais devagar, usar frases mais simples e diretas, e usar recursos visuais como a escrita ou imagens para apoiar a compreensão. Mas nunca confundir isso com “falar pela pessoa”, atrapalhar sua linha de raciocínio, “atropelar” a sua fala ou tratar o adulto com afasia como se fosse criança. Por isso, sempre reiteramos: dê tempo, tenha paciência e respeito ao interagir com alguém com afasia.
Além disso, é fundamental manter uma atitude otimista, empática e encorajadora.
Celebrar os sucessos, por menores que sejam, pode aumentar a confiança e motivar a pessoa com afasia a continuar trabalhando na reabilitação de sua linguagem e comunicação.

Existem diversas barreiras que podem dificultar a convivência com a pessoa com afasia. Alguns exemplos de Barreiras:
• a falta de compreensão e entendimento sobre a afasia por parte de outras pessoas;
• o estigma associado à condição de quem não consegue mais falar como antes e as limitações na acessibilidade à reabilitação e aos recursos de comunicação;
• a invisibilidade da afasia que, por não ser uma condição aparente, muitas vezes é subestimada ou ignorada por outras pessoas;
• a falta de paciência por parte de quem escuta, querendo falar pelo outro ou mudando de assunto;
• isolamento social, às vezes dentro da própria família;
• limitações de acessibilidade na sociedade em termos de direitos, trabalho, benefícios e leis;
• confundir afasia com falta de atenção, falta de inteligência, falta de esforço ou competência;
• Você consegue pensar em outras barreiras?
No entanto, também existem muitos Facilitadores da comunicação que podem tornar a convivência com a pessoa com afasia mais fácil e interativa:
• o apoio da família e dos amigos;
• a educação sobre a afasia;
• a validação de outros modos de linguagem e não só a oralidade;
• o acesso a recursos de comunicação alternativa;
• respeito, paciência, compreensão.
Por isso, nosso lema: saber, entender, conviver.
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A Afasia é uma das sequelas de AVC. Quanto mais rápidos forem o reconhecimento e a identificação dos sinais e sintomas de AVC, o contato com o SAMU, a chegada ao hospital e o atendimento médico de emergência, menos sequelas (ou sequelas mais leves) e mais chances de recuperação o paciente terá. Muitos jovens relatam a experiência de chegarem ao hospital com sintomas de AVC e serem liberados porque os sinais foram confundidos com o uso abusivo de álcool, uso de drogas, ou mesmo crise de ansiedade.
Portanto, a conscientização sobre o AVC, seus sinais e sintomas, os fatores de risco e a prevenção é fundamental para a saúde da população. Parabéns para a Associação de AVCistas do Brasil por mais esta conquista!
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Você, que já nos acompanha há mais tempo, deve lembrar que todo mês de junho nós pensamos em maneiras de poder explicar a afasia de um jeito leve, simples e didático.
As campanhas de conscientização do Portal da Afasia são importantes ferramentas para toda a sociedade, pois sempre trazem as próprias pessoas com afasia para o debate e reflexão.
Pensando nisso, o Portal da Afasia irá resgatar, em junho de 2024, as iniciativas e comunicações já realizadas desde 2018, numa ação poderosa de educação e celebração de mais um Mês de Conscientização da Afasia!
Junte-se a nós!
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