Esta é a Descomplicando a Afasia, a newsletter que permite entender mais de perto o universo de quem convive com a Afasia.
Nesta edição, vamos falar sobre os impactos da pandemia de Covid-19 e como o isolamento físico e os protocolos de segurança afetam a vida e o cotidiano das pessoas com Afasia.
Vamos lá?
A Covid-19 pegou a todos de surpresa, não dando a chance e tempo de nos prepararmos para lidar com as consequências e mudanças de hábitos impostas repentinamente.
Para quem tem Afasia, e para quem convive com uma pessoa com Afasia, a obrigatoriedade do distanciamento social teve um impacto duplicado, pois se já é difícil dar conta da fala, das conversas, das interações em situações presenciais ou sem restrições de contato, imagine ter que reduzir drasticamente suas oportunidades de fala, ou mesmo ter que aprender a conversar, de forma virtual!
Aos poucos, fomos aprendendo a lidar com os desafios e obstáculos causados pela Pandemia, fomos reinventando e recriando novas coreografias, sem, contudo, jamais parar de dançar.
Assista aqui o vídeo “Vento”, por Joan Jonas.
O vídeo mostra o quanto é preciso sempre reinventar a COREOGRAFIA de nossas vidas, principalmente com a AFASIA. E, mais ainda, com a Pandemia.
O que mudou no convívio social com a Covid – 19?
Seguindo as normas e protocolos da OMS, todas as pessoas foram orientadas a praticar o isolamento social a partir de março de 2020, o que restringiu ou impediu a realização das mais diversas atividades – laborais, sociais e de lazer, acadêmicas, escolares, esportivas – e, entre elas, as atividades terapêuticas presenciais.
O impacto do isolamento foi sentido por todos, pois, afinal, somos seres sociais que primam pela capacidade de comunicação, para realizar trocas e interações. As pessoas com acessibilidade a diferentes tipos de conexão como celulares, WhatsApp e videoconferências, aprenderam, desenvolveram e passaram a interagir de forma remota. Outros, contaram com a ajuda de familiares para se conectar, pois muitos idosos passaram a coabitar com filhos e netos durante a pandemia. Porém, muitas pessoas simplesmente não tiveram opção de acessibilidade e se isolaram de fato, reduzindo drasticamente o convívio e as possibilidades de comunicação e de interação com familiares, amigos e pessoas em geral.
Desde o início tivemos que nos adaptar e reinventar novas formas de convivência.
Sabemos que na Afasia é preciso “descobrir as dificuldades, encarar as limitações, reinventar um jeito próprio de dizer as coisas e de estar no mundo”. (Portal da Afasia)
Então, para quem tem Afasia, a pandemia exacerbou todos os desafios e pôs à prova a capacidade de enfrentamento e de superação.
O uso de máscaras se tornou obrigatório por sua redução no risco de contágio pelo coronavírus. No entanto, utilizá-la interfere e dificulta a comunicação. Vamos entender o porquê.
A maioria das pessoas faz uma espécie de leitura dos lábios e da expressão facial para melhor compreender aquilo que está sendo falado pelo interlocutor, além, é claro, da própria audição. Quando uma parte do rosto e da boca estão cobertos pela máscara, esta análise das pistas faciais não é mais possível e temos apenas o canal auditivo.
A máscara também abafa a voz, prejudicando a sua projeção.
Pessoas com diminuição da acuidade auditiva vão ter maior dificuldade para “escutar” e compreender a fala do interlocutor que esteja usando máscara. As pessoas com Afasia também vão apresentar a mesma dificuldade. É importante saber disso para que possamos pensar em estratégias e outras soluções para minimizar a dificuldade de comunicação que a máscara causa.
Com a pandemia e o isolamento físico, os atendimentos presenciais nas terapias de fonoaudiologia foram reduzidos ou interrompidos.
Algumas pessoas com Afasia tiveram acesso às terapias de linguagem de forma remota, via internet, com o uso de computadores, tablets ou mesmo celulares, dando continuidade à reabilitação de linguagem através da Telefonoaudiologia. Outras pessoas com Afasia, mesmo tendo acesso a computadores, não se adaptaram ao tratamento de forma remota e acabaram desistindo.
A terapia de linguagem remota permitiu a continuidade da reabilitação durante a pandemia e ampliou a acessibilidade à terapia de muitas pessoas com Afasia, mas apresenta várias limitações quando comparada à terapia presencial.
Algumas pessoas com Afasia acabaram se beneficiando de um maior contato com suas famílias durante a pandemia, mesmo de forma remota, e relatam melhora na linguagem e na comunicação, apesar do isolamento físico.
Assista aqui ao depoimento da Isabel Santana durante o encontro do Grupo Pauliceia em10/09/2021!
QUER FAZER A DIFERENÇA?
Você que tem Afasia ou convive com alguém que tem Afasia, participe da pesquisa que ajudará a compreender melhor o impacto da pandemia de Covid-19 na vida e na comunicação das pessoas que convivem com a Afasia!
O resultado será divulgado na próxima edição de Descomplicando Afasia.
Responda o questionário aqui
Dica de leitura!
O Fantasma do Sótão por Camila Fabro
O texto muito sensível de Camila Fabro – sobrevivente de 2 AVCs e criadora deconteúdo do canal @camiladesmiolada – foi originalmente publicado em sua coluna”Desmiolada”, no
Jornal Plural de Curitiba, Paraná, em 1/06/2021. É sobre Renata, uma sobrevivente de AVC.
“Tudo isso porque na verdade fantasmas nãosão invisíveis, eles apenas não são vistos.”
Leia aqui
Dica de filme!
As Palavras Perdidas (Les Mots Perdus) – Marcel Simard. França (1993). Tradução e legendas por Ana Lucia Tubero.
Um filme elaborado por pessoas com afasia. Quatro histórias em quatro estações: Nicole no inverno, em Quebec; Marie, em Paris na primavera; Catherine, no verão da Suíça e Jacques, na Bélgica durante o outono. Embora vivam em quatro países diferentes, eles vivem no mesmo mundo: o da afasia.
Confira a sinopse em AFASIA e CINEMA.
Quero assistir
Com a vacinação e os protocolos de proteção estamos conseguindo vencer a pandemia. Aos poucos, vamos retomando nossa rotina e cotidiano, com a certeza de que o encontro, as interações, as trocas e a convivência são fundamentais para cada um de nós e, mais ainda, para quem tem Afasia. De forma presencial ou remota, esteja sempre presente.
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