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Descomplicando Afasia #20

Os parceiros da comunicação e as barreiras atitudinais

 

Bem-vindos à nossa edição de número 20!

 

Hoje vamos conversar sobre um tema fundamental para a convivência, a interação, a comunicação e a inclusão de pessoas com afasia: a relação entre os parceiros da comunicação e as barreiras atitudinais.

 

Como vocês já sabem, a afasia é uma alteração de linguagem adquirida geralmente decorrente de uma lesão no hemisfério cerebral esquerdo causada por AVC, Traumatismo Cranioencefálico, tumores cerebrais etc.

 

Portanto, ninguém nasce com afasia. Mas adultos idosos, adultos jovens e mesmo crianças podem, de repente, ter um AVC e, de repente, ter dificuldades para falar e para compreender a fala dos outros e, também, dificuldades para escrever e para ler.

 

Então, de repente, a pessoa com afasia e todas as pessoas que convivem com ela vão precisar descobrir outras formas de interação e de comunicação. A reabilitação fonoaudiológica é essencial, mas aqueles que convivem com a pessoa com afasia também têm um papel fundamental como parceiros da comunicação.

 

E, nesse convívio, preconceitos, estigmas, crenças, estereótipos, podem perpassar as relações interpessoais e criar entraves e obstáculos à comunicação e à reabilitação de linguagem das pessoas com afasia. São as barreiras atitudinais. Elas se referem às visões e às atitudes da comunidade diante da inserção das pessoas com afasia nos diversos contextos, familiar, acadêmico, social, de trabalho.

 

É preciso conhecer, reconhecer e entender as barreiras atitudinais para possibilitar a integração social e a inclusão das pessoas com afasia.

 

A Newsletter 20 lança um desafio para todos nós, parceiros de comunicação da pessoa com afasia: Quebrar Barreiras e Construir Pontes!

 

Vamos juntos!

 

Barreiras atitudinais

 

As Barreiras Atitudinais são atitudes e comportamentos que dificultam ou até impedem o exercício pleno da cidadania, a inclusão social e o empoderamento das pessoas com afasia.

 

As Barreiras Atitudinais são construídas por falta de informação sobre linguagem e afasia, pela dificuldade em entender a experiência de viver com uma condição como a afasia, que afeta a comunicação, por preconceitos ou estigmas que cercam a pessoa com afasia.

 

Entendendo as barreiras atitudinais

 

O mito de que “quem não fala bem, não pensa bem”, ou seja, acreditar que a afasia afeta a inteligência da pessoa, é um dos preconceitos que criam muitas barreiras atitudinais.

 

Além disso, algumas atitudes de familiares e cuidadores, com o objetivo e vontade de ajudar, proteger ou poupar a pessoa com afasia durante situações de conversa e de interlocução, nem sempre são facilitadoras da comunicação. E, mesmo sem querer, podem criar barreiras.

 

Barreiras atitudinais no cotidiano da pessoa com afasia

Pessoas com afasia muitas vezes enfrentam um ambiente social onde suas dificuldades são incompreendidas ou desvalorizadas. O convívio pode se tornar mais desafiador, dificultando a inclusão e a participação plena da pessoa com afasia na vida cotidiana.

 

Situações que envolvem infantilização, invisibilização, e outras atitudes capacitistas levantam barreiras de isolamento, de não pertencimento, de privação de oportunidades de interação em contextos diversos.

 

Além disso, diante de barreiras atitudinais, as pessoas com afasia percebem sua fala e opinião como não mais validadas.

 

Vamos juntos conhecer e identificar estas barreiras atitudinais?

O desafio é quebrar as barreiras e construir pontes!

 

#Carta fora do baralho

• Falar pela pessoa com afasia, responder no lugar da pessoa com afasia

 

Se você fala ou responde pela pessoa com afasia, você irá privá-la de oportunidades de interação que são fundamentais na vida social e na reabilitação de linguagem.

 

A pessoa com afasia sabe o que quer falar, ela pode precisar de um tempo para responder, para elaborar uma pergunta, resposta ou comentário, pode solicitar alguma informação ou explicação que não entendeu no momento, como uma pessoa em qualquer situação de interação. A pessoa com afasia tem conhecimento, experiência, repertório, opinião e quer seu lugar para participar de forma ativa nas diferentes situações de convivência, no trabalho, na família, com os amigos, em diferentes situações.

 

#Invisível

 

• Falar ou conversar só com o familiar ou o acompanhante, como se a pessoa com afasia não estivesse ali presente
• Ignorar as tentativas de comunicação da pessoa com afasia
• Falar sobre a pessoa com afasia na presença dela sem incluí-la na conversa

 

Atitudes de invisibilidade e apagamento são frequentemente relatadas pelas pessoas com afasia. A invisibilização pode ocorrer em contextos da família, do grupo social, de espaços públicos como padarias, farmácias, supermercados, mas também em situações de consultas com profissionais da saúde. Fica aqui a voz das pessoas com afasia: Fale comigo! Eu não sou invisível!

 

#Café com leite

 

• Mudar de assunto ou adiar a conversa diante das dificuldades de linguagem durante a interlocução com uma pessoa com afasia
• Fingir entender a fala da pessoa com afasia
• Não permitir ou interromper a fala da pessoa com afasia e tomar uma decisão por ela

 

Popularmente, uma pessoa é “café com leite” quando está em uma situação em grupo ou em uma atividade de jogo ou brincadeira em grupo, e é considerada neutra, pois, na avaliação do outro, essa pessoa não tem condições de acompanhar as regras ou de participar da situação.

 

No caso da afasia, a pessoa com afasia pode ser vista equivocadamente como quem não consegue seguir as “regras” de uma comunicação ou se envolver de modo mais “eficiente” na interação, e, por isso, sua fala, opinião, comentários, são desconsiderados ou não-validados nos diferentes contextos de interação.

 

Muitas vezes, a pessoa com afasia não tem nem mesmo espaço ou tempo para falar ou interagir nas diferentes situações de comunicação, sendo tratada como “café com leite”.

 

#Infantilização

 

• Tratar o adulto jovem e o idoso com afasia como criança, infantilizando a fala e o comportamento

 

Tratar adultos jovens e idosos com afasia como crianças, infantilizando a fala e o comportamento, é uma atitude inadequada e desrespeitosa. A afasia é uma condição que afeta a capacidade de comunicação, mas isso não diminui a dignidade, a autonomia e a complexidade emocional dessas pessoas.

 

Infantilizar adultos jovens e idosos com afasia pode levar a sentimentos de humilhação, frustração e perda de autoestima, impactando negativamente a recuperação, a reabilitação, a inclusão e a qualidade de vida dessas pessoas.

 

É importante ter atitudes, postura e comportamento compatíveis com a idade da pessoa com afasia, sem subestimar suas capacidades e experiências de vida.

 

#TUDO ou NADA

 

• Falar pela pessoa com afasia, responder no lugar da pessoa com afasia por achar mais fácil, rápido e eficiente para a conversação

• Não interagir com a pessoa com afasia durante a interlocução, ficar em silêncio, sem contato de olho, esperando a pessoa com afasia dar conta sozinha da conversa e de encontrar a palavra que quer dizer

 

TUDO. Embora possa parecer mais fácil e rápido, a atitude de falar pela pessoa com afasia pode gerar sentimentos de frustração, impotência e exclusão, além de retirar a autonomia e privar a pessoa com afasia de oportunidades de interação. A afasia pode dificultar a comunicação, mas não anula a capacidade e a vontade de se comunicar. É fundamental incentivar a pessoa a tentar se expressar, oferecendo tempo, apoio, paciência e empatia, mas sem assumir o “controle” da conversa.

 

NADA. O silêncio prolongado e a falta de contato visual do interlocutor durante a interação são atitudes que podem fazer a pessoa com afasia se sentir isolada e desconsiderada. Mesmo que a pessoa demore para encontrar as palavras, o apoio, a presença e a participação do interlocutor são essenciais. Manter o contato visual, encorajar a pessoa a se expressar, mesmo que isso leve tempo, saber esperar e entender o momento de oferecer ajuda, engajar-se na conversa são atitudes facilitadoras de uma comunicação empática.

 

#Jogo de adivinhação

 

• Tentar adivinhar ou “chutar” o que a pessoa com afasia está querendo falar, às vezes sem considerar o contexto da conversa

 

Se o interlocutor, embora com o intuito de ajudar nessa busca, começar a sugerir palavras aleatórias, nem sempre relacionadas ao contexto, como se quisesse adivinhar a palavra, a pessoa com afasia terá ainda mais dificuldade.

 

Em uma conversa, interagir com o interlocutor, com ou sem afasia, pressupõe uma escuta ativa, exige atenção ao contexto, à fala, aos gestos, à expressão facial para que a comunicação aconteça.

 

#Falando para as paredes

 

• Fingir entender a fala da pessoa com afasia

• Desconsiderar e não validar a fala da pessoa com afasia ao retomar e repetir, logo em seguida, o mesmo conteúdo, sob o pretexto de deixar mais clara a conversa

 

A interação é a base do desenvolvimento das relações interpessoais e da comunicação. E é também a base da reabilitação de linguagem das pessoas com afasia. A linguagem é co-construída na situação de interlocução, na conversa com o interlocutor.

O mesmo acontece com a compreensão, o interlocutor fala e compreende o outro à medida que o outro o compreende e fala. É o que se chama de intercompreensão.

 

Se você não compreender o que a pessoa com afasia fala ou quer dizer, diga para ela que você não entendeu e retome a conversa ou o assunto a partir do ponto em que a compreensão estava acontecendo.

 

É preciso uma parceria no jogo enunciativo. E os parceiros de comunicação jogam no mesmo time da pessoa com afasia!

 

Portal afasia

 

Acesse o e-Book “Comunicação Empática” para ter ainda mais informações e orientações sobre “Quebrar barreiras e construir pontes” na interação com uma pessoa com afasia.

 

#Saber #Entender #Conviver.

 

Chegamos ao final dessa edição.

 

A afasia pode tornar a comunicação desafiadora, mas o apoio e o entendimento de quem convive com a pessoa com afasia fazem toda a diferença. Com essas orientações e informações, esperamos contribuir para quebrar barreiras e construir pontes em um ambiente mais acolhedor e inclusivo para as pessoas com afasia. Vamos juntos, parceiros da comunicação!

 

Até a próxima!

 


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